domingo, 26 de agosto de 2012

Feliz? Sei lá...


Feliz? Sei lá...

talvez precise de umas sapatilhas de bailarina,

de um sonho infantil,

da lua que pedi e ninguém pôde dar

ou das tulipas que não recebi, negras...

talvez precise da surpresa,

do espanto,

do grito prodigioso da paixão,

de uma fada que me leve na estrada encantada

para além do tempo absurdo da solidão,

de jardins aos molhos e sorrisos aos montes,

de crença,

talvez precise de uma espiga de ouro em campo de seara,

pode até ser solitária,

o doce engano de um raio de sol

ou mesmo nada....

Feliz? Sei lá!...

talvez precise de "ôtros negoço possive".

MariaJB


Poema inspirado no poema "Cante lá que eu canto cá" da autoria de Patativa do Assaré (1909-2002).

Poeta de uma sensibilidade e simplicidade extraordinárias foi com certeza um homem de grande sabedoria e que acredito ter sido feliz.

Obrigada a quem me o deu a conhecer.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Recuso-me

De repente leva a esperança
o espesso vento da melancolia
leva-a para o mundo da descrença
do esquecimento, da nostalgia

mas recuso-me a ser triste, a dar
à morte a alegria fenecida
de um pedaço de mim ainda em vida
recuso-me a sofrer, a lamentar

o fado que me perturba e agita
que me encurrala e confunde
recuso-me à morte que artificia

a morte da alma que ainda acredita
num mistério que abrande
o espesso vento da melancolia


MariaJB

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

....

Com o coração frio
saíste para fazer pátria
não te atrasaste
saíste com o silêncio
nas horas vivas pela madrugada
no teu ventre mãe o pequeno rapaz
Hiroshima, nosso horror
sem a alegria que prende ao infinito
os momentos breves e doces
a paz
na noite cruzaste mares e céus
e o que fizeste, meu Deus?
nada!
fizeste nada,
reduziste a criança a bomba, sangue e pó
como uma borboleta inflamada
em ondas de fogo para sempre,
eternamente.

E quase ninguém se atrasou
para a morte anunciada.
MariaJB

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Se soubesse escrever poesia

Se soubesse escrever poesia
Num só poema então te diria,
Baixinho… como são poderosas
As palavras…são como rosas

Provocantes nos matagais
São pétalas rubras fatais
Como beijos de surpresa e mel
No meu sorriso, na minha pele

São doces as pétalas proibidas…
           Ai Deus…! É a ti ,que quase acredito,
           que digo, eu sei porque são interditas

          São o desassossego que me alarma
          Invadem a minha mente e o meu espirito  
          E sussurram, baixinho… Dás-me a tua alma?

MariaJB