segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Não sei…”Alma de Mariana”

Não sei porque de repente o silêncio
Se assemelha ao ruído insuportável
Das tuas palavras ausentes. E se o
Tormento, este que sinto, adorável

Me alimenta e consome, guloso
 Frio e indiferente à fera violência
 Do meu desgosto, é imperioso,
 Urgente, e não tenhas clemência,

Que o teu desprezo as despedace
 As penas que tenho a suportar
 Impiedosamente, excessivas, e

Tanta dor. E nada mais importa
Se de amor me queres matar,
Porque acredita, eu já estou morta!

MariaJB

domingo, 29 de janeiro de 2012

Loucura

Em aventura cavalga encantado
Pela Dulcineia, musa inspiradora
Senhora sua, de beleza devastadora
D. Quixote louco e alucinado

Inflado de orgulho e altivez
Altaneiro na sua pileca Rocinante
Num galope torto e exuberante
Ergue a espada com desfaçatez

Aos incrédulos moinhos soldado
- Ai Senhor! Ai Jesus! Reza Pança
Mortificado e sem esperança
- É agora burrico! Estamos acabados!

E os moinhos de velas, enfunados
Agitam-se inquietos e turbulentos
Abrem o peito e bradam ao vento
- Está louco! Está apaixonado!

Na bela e sublime condição
Enfrenta corajoso os gigantes,
E com voz grave e sonante
Responde Quixote com paixão

-Louco?  Deixem-se de tretas!
Não há cavaleiros sem escudeiros
Não há guerras sem guerreiros
Nem Romeus sem Julietas!

MariaJB

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Traição "Alma de Mariana"

Trai-me o coração e a alma
Com olhos negros feiticeiros
Em passos belos e ligeiros
Entranha-se com calma

Nas veias como um veneno
Invade-me e expande-se
Amor traiçoeiro. Ai tivesse
Eu os poderes de Heleno!

Teria erguido um alto muro      
E à distância de uma seta o             
Mataria chorando amor puro

Soberbo Cavalo de Tróia
O meu coração? assalta-o
A minha alma? destrói-a

MariaJB

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Sentimento "Alma de Mariana"

Quão vil é este meu sentir
Que me arrasta como o vento
Não faço  mais que consentir
A dor madrasta que acalento

Em toda a sua majestade
Em noites de imensidão
Desejo um mar de tempestade
Que me naufrague o coração

Para águas profundas e escuras
O arraste,  mate e sepulte
Ó meu Deus, tanta é a loucura

Todos os  dias, todas as horas
Sentimento complicado…este
Pelo que a minha alma chora.

MariaJB

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Bailarina


A pequena bailarina de catorze anos
Edgar Degas



Mulher pequena
esguia e franzina
queria tanto
tanto ser bailarina
sentada na esplanada
a ver quem passa
sonha como é
o bailado da criança
que brinca sózinha
junto ao café
cabelo castanho
preso numa trança
indiferente dança
e
finge que não é nada
num mundo de ilusão
usa a imaginação
faz o palco da calçada
é rainha, é bailarina
solta de encanto
parece uma folhinha
que rodopia, rodopia
em piruetas de ballet
risca o ar, borboleta
criança
de risada menina.
É minha
a
lágrima de cristal
transparente
natural
que me afaga o rosto
e me desperta.

MariaJB

sábado, 21 de janeiro de 2012

Sem Título

Grande é o Poeta
que com amor e ternura
a minha alma desperta.
Este destino, desatinado,
louco e irado
não entende a verdade.
Diz-lhe Baudelaire !
"Como o mundo é pequeno
aos olhos da saudade"


MariaJB

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Boas Novas

No sono profundo
de doce encanto,
surgiu a Maria um Arcanjo,
leal mensageiro,
Boas Novas trazia:
Salve, Maria!
Conceberás,
 por obra e graça
do Espírito Santo,
o Filho Divino,
o Filho da Esperança.
Atónita, Maria responde:
Conceber, sem me perder?
Sou mulher, quero ter prazer!
É este o meu destino?
Não és mulher, és Maria
Virgem Santa
perfeita
de pura beleza
foste a eleita!
Serás mãe da Humanidade,
Congratula-te, sem vaidade!
Com o olhar de tristeza
que lhe ficou para a posteridade,
Maria pensou
Que enormidade!

MariaJB

 Hoje comprei um livro de poesia de Helder Macedo "Poemas Novos e Velhos" e li este seu poema:

Anunciação

Espada dúctil de fogo
negro sol latejando vertical
ave branca explodida no meu ventre

é sem partilha
o amor que me anuncias
nem é humana
ou tua
a sombra que cresceu sobre o meu corpo
e por mim se alongou
e me alongou num fundo mar
sem esperança
pois não há esperança no mistério revelado
e o que a carne concebe
é já divino
porque sem comando.


Quando leio poemas deste gabarito fico maravilhada.  O poema "Boas Novas" já escrevi há algum tempo, ainda nem tinha definido muito bem o título. Escolhi-o hoje inspirada no poema de Helder Macedo, o que eu gostaria realmente de ter escrito. É com profundo respeito que me atrevo a publicar o meu "poema" junto ao deste senhor, Helder Macedo, para quem não conhece, é um vulto na cultura portuguesa, um homem, que depois do que li, esconde uma alma enorme e profunda debaixo de um aspecto muito sóbrio e intelectual. "Apaixonei-me" por ele durante um programa televisivo "Grandes Portugueses" (aquele que ganhou Salazar!) apresentado pela jornalista Maria Elisa. No entanto, devo confessar, que não conhecia a sua obra poética e é maravilhosa.  Comprem, vale mesmo a pena.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Súplica

Traz-me palavras chuva miudinha,
nas noites húmidas e quentes,
traz-me a voz do amor, somente,
alma gémea, alma minha.

Traz-me um espelho que adivinhe           
a nudez da onda na luz selvagem
que suspensa num sopro de aragem
suavemente no meu seio se aninhe.

Traz-me os astros em alvoroço,
sem rota, as estrelas e as galáxias,
de Nino os concertos e as sinfonias 
qualquer coisa, que eu ouço!

Traz-me poesia e música
em suaves acordes de melodia,
a claridade de um novo dia
em fados de aventura. Uma súplica:

Por favor… traz-me o mar e as
ondas verdes, uma nova carícia,
chamas de mel e sal, a delícia
do paraíso e os beijos em poemas,

ou então a ternura…

MariaJB

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Emudecem os pássaros...

Emudecem os pássaros
à luz quieta do entardecer,
no silêncio a estremecer
despertam olhos bárbaros

endurecidos e dourados,
espectros de uma outra esfera,
bebem sangue, água e terra
comem a carne esfaimados.

No vácuo profundo da boca
erguem-se objectos semelhantes,
punhais, facas e dentes
que trucidam na ânsia louca

corpos quentes e vacilantes.
Foge, ágil e frágil gazela,
na savana ergue uma capela,
reza pelos ossos inocentes

pela nostalgia do poeta
pelos corcéis feridos, chora
pelos verdes que amaras
pela melancolia de Greta 

garbosa estrela distante,     
um pouco ao sul do sol.
Na selva, de súbito, a escol,
todos os distintos te

veneram, vulgam doçura
com beijos de sangue,
selva nocturna exangue.
Com garras de candura

gatos, tigres e leões,
aos deuses impotentes,
(uns e outros iguais a toda a gente)
em cínicas orações,

rezam que o dia se 
faça noite de repente,
que te trucide novamente
ao entardecer que fenece

no vagar da paisagem…

MariaJB


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O meu coração..."Alma de Mariana"

O meu coração andou a voar
Com asas de encanto
Cortejou o mar
Mergulhou em delírios de espanto
Revisitou lugares de saudade
Onde os pássaros eram livres
E as estrelas sóis de verdade
Em voos de deslumbre
Acreditou no amor intemporal
Doido total
Este meu coração é doido
Virou a minha vida do avesso
O quatro virou oito
A noite virou dia
Pleno de sentimentos travessos
Acreditou no sonho
Inventou quimeras de papel risonho
De palavras, de poesia
Enfrentou o perigo iminente
Experimentou  adrenalina e  euforia
Que só o coração sente
Chorou alegria
Riu tristeza
Tamanha é a estranheza
Não há ciência nem experto
Que explique  a desordem
Deste meu coração
Não atende a ordens
Nem a métodos
É pura emoção
Com ele me desconcerto
Cisne branco
numa canção morreu
ao nascer Amor perfeito
Na ilha do sentir.

Queria ter  dois
Um para chorar
Outro para sorrir

MariaJB

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Cruz sem Cristo "Alma de Mariana"

Já não te quero! não te quero, dor!
Quero que te despenhes no inferno
Que te consumas no fogo eterno
Que morras em chamas de ardor

Chamas rubras e incandescentes
Ah amor! Ah dor! dor cruel,
Judas da minha alma, fel
Escorres-me no peito lentamente

Sangue verde-negro, misto
De esperança e desilusão
Laceras-me sem indulto, sem perdão

Na noite sem estrelas, na cruz sem Cristo
Pelo pecado do amor e da paixão. Ó dor!
Matas-me! Matas-me num suplício em flor.

 MariaJB

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Ó Mar..."Alma de Mariana"

Ó mar o que sabes do amor?
responde-me brisa e maresia
e do mal que o bem me faria
o que sabe ele do meu amor?


do bem que o mal me faria?
não sabe que guardo um tesouro
naufragado em prata e ouro
tulipas, rosas e alegria?


que o amor me navega
pelos quatro cantos do coração
e que me escorre mel pelas mãos?


ele não sabe que a minha alma alberga
orvalho puro do jardim das acácias
e que um poema é uma carícia.

Esqueceu.

MariaJB

sábado, 7 de janeiro de 2012

Tempo imperfeito "Alma de Mariana"

Escrevo-te palavras e palavras, umas atrás das outras, compulsivamente, cartas, rimas, qualquer coisa parecida com poesia porque o amor é uma máquina de fazer poemas, enquanto uma estrela ri despudoradamente deste tempo imperfeito, ilusório, em que projecto na fantasia noites quentes, claras e despertas, fábula nocturna de um triângulo amoroso, eu, tu e a paixão. E fumo, o fumo das velas que fuma as ideias e gera perguntas idiotas. Será que pega fogo? Chovia! Noite perturbadora , íntima e fria, um corpo, e outro corpo estremecia. A mente quieta contemplava a lua, um sol branco, grávida de silêncio futuro, de palavras ausentes. Porquê? Este é o último tempo dos mil anos que hão-de vir. A substância do vento traz-me a voz e a sombra da árvore a silhueta do teu rosto incontornável . Um sorriso à flor do coração, feérico, gravado a ferro e fogo. São rosas, Senhor! São punhais, amor! Tão suaves a ferir… Mênades embriagadas à volta da fogueira sagrada bebem sangue e vinho e a minha alma pulsa vertiginosamente na queda no abismo em metros de solidão. . Retorno aos quotidianos esféricos, ao tempo do nada, dos lagos glaciares asfixiados em neves níveas, sem pianos, sem pássaros, sem asas. Um há-de ter uma fenda, uma boca de fera esfomeada por novas Primaveras, por novos mares amar,  Thalassa de pérolas e prata.

MariaJB

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

...

Terra sem Nome

Sou Terra
sou Terra sem nome
sou Terra de ninguém
sou Terra de mim
sem fronteiras, sem limites
sou montanha, sou planície
sou Terra de sonhos
sou Terra de jasmim
sou revolução, sou convicção
Sou? sou Terra!
a Terra da fantasia
porque a Terra de ninguém
sempre pertence a alguém

Recentemente ao reler este meu poema lembrei-me de Bouazizi, e do que senti quando vi as imagens que correram mundo, deste jovem tunisino que faleceu no hospital a 04 de Janeiro de 2011 vítima de graves queimaduras da imolação a que se sujeitou a 17 de Dezembro de 2010 num acto de protesto extremado pelo desespero e humilhação, provocado pela indiferença e prepotência do regime ditatorial de Ben Ali.
A Montanha não pariu um rato!

Reescrevi o poema e dedico-o a Bouazizi.

A Bouazizi

Sonhavas que os pesos eram letras e as hortaliças sonhos
porque eras um homem rico, tinhas uma balança,
tinhas família, tinhas fome e tinhas demasia
na algibeira, uns trocos de esperança desdenhavam a injustiça
e o polvo medonho levando nos tentáculos a alegria.
Eu sei.
E a montanha estremeceu, na ditadura obstetra nasceu um Homem só,
um Homem de pé, um Homem do povo, um Exército de fé, sem fronteiras, sem limites.
Caiu o teu muro de Berlim, o teu medo, já não era teu, era de Ali.
Em terra de ti, em terra de jasmim nasceste Primavera, nasceste revolução.
Numa planicie devorada de vermelho, o teu peito, a convicção,
fogo e sangue, o grito primitivo e imolado.
Eu vi, eu chorei.

MariaJB

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A palavra "Alma de Mariana"

Hoje não sei bem o que escrever, ou a quem escrever. A ti não!
Brinco com a caneta em folha de papel reciclado,
risco traços, desenho ondas
e um quadrado, pode ser o meu cérebro.
E surge uma flor ,todas as mulheres desenham flores, de pétalas vermelhas.
Bela.
Encantada abro as mãos na doce ilusão da oferta.
Quero a palavra!
Aos deuses imploro:
- Devolvam a palavra , a que me escorre pelos dedos,
a que que me inflama o coração.
Já não a escrevo. A ti não!

Preciso urgentemente de inventar outro alfabeto.

MariaJB

Se soubesses... "Alma de Mariana"

Se soubesses tudo o que sinto…ficavas
Boquiaberto, tantos são os diabos
De que não me liberto, endiabrados
Atrevidos…e não acreditavas!

Arrojados no desejo, no meu
Corpo alastram o fogo atiçado
A chama, o incêndio ateado
Pela sede sedenta do teu

Molhado, suado, salgado.
Ah amor! no ardor do pecado
Quero ser tua, só.

Quero o momento de seda e organdi
Aquele que pertence a mim e a ti
A nós.

MariaJB

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Voo

Olho o céu e vejo um falcão
soberbo e imponente
num vôo gracioso
voa indiferente
È mentira! Não vejo nada!
Neste céu de toda a gente
não voa nenhum falcão,
nem uma águia!
O único Falcão que conheço
é o piriquito da vizinha
e nem tem piada
engaiolado,
triste e
amargo...
Olho o meu céu
e vejo um passarinho
frágil e pequenino, tão pequenino
num vôo harmonioso
voa vaidoso.
No meu céu não voa um falcão
mas voa um passarinho
frágil e pequenino
sem qualquer pretensão.
Choro e rio sem parar
poderei sonhar?
Peço a Deus com humildade
_Deixa-me voar!
E Deus responde...
Pede à gravidade!

MariaJB

No tique-tac do meu relógio

No tique-tac do meu relógio
batem as horas
que passam em minutos
em segundos dormentes
nesta espera
de um amigo que está ausente.

MariaJB

domingo, 1 de janeiro de 2012

Escrava é a sede da terra

Escrava é a sede da terra
que ao mar resgasta a onda
na ânsia louca que lhe responda
pelos mistérios que encerra

no cortejar oculto e insinuante
mistura a areia à espuma
com a graça felina de puma
desliza suave e deslumbrante,

misterioso e profundo, em mim
nas fases da lua de marfim
enche e vaza a terra, destemido

deixa conchas, pérolas e búzios
o desejo ardente nos lábios
a chama de um fogo adormecido

MariaJB