segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Ah Emoção...

Ah Emoção…invadiste o meu coração
Tão completamente, mas tão completamente
Num milagre de cor, és brilho tão somente
De topázio sol, de safira céu, de rosa vulcão

Emoção a Grande, misteriosa
És uma flor, um lírio de branca pureza
de íntimo prazer, de maravilhosa delicadeza
podia eu até morrer e morria gloriosa

Em campo de trigo maduro, és sentimento
és alma, seara do meu contentamento,
e no momento, tu, Emoção

És imperadora, e no meu peito
reclamas até ao infinito
o império do meu coração

MariaJB

domingo, 25 de dezembro de 2011

Pudesse eu ser

Pudesse eu ser
uma espada de folha branca,
fria, densa e opaca
e em terra escarlate matá-la
a saudade,
indelével no tempo infinito.
No jardim sepulcral permanece
um pássaro mudo ou mesmo uma flor de cristal.
De uma lágrima na tua campa azul
nasce uma rosa de fogo.

Para ti, se o Céu existir
estás lá.
Com amor

MariaJB

sábado, 24 de dezembro de 2011

Em nome da mãe

Todo o crente acredita que És Omnipresente
provavelmente Estás aqui ao meu lado, agora, enquanto
escrevo, e se penso em Ti, deves existir,...
numa flor, no sol, na lua, nas estrelas , no azul
no riso, no doce sentir...
Estranha espécie de amor que dá forma ao sonho
na vida que se repete, no seio que amamenta o filho
e no colo que abraça o Mundo.
Vê como ele não suporta o ar,
não suporta a luz!
Em nome da mãe
diz-me Deus, para chegar ao céu
quantos dos filhos Teus
têm que morrer na cruz?

MariaJB

Sem Palavras

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Um dia vou morrer

Um dia vou morrer e morre a voz, o cheiro
o gosto, o sabor de todos os pecados,
o meu sentimento inteiro
um dia vou morrer e nasce a noite plena e feroz
no Vale dos Ventos onde não há risos, nem meninos
nem mar, nem predicado, nem Deus
é a minha vida, é a minha morte, é Minos
é o furacão que me sacode os músculos, os ossos
que me sorve a alma, o sangue, o íntimo absoluto
a paixão...

MariaJB

domingo, 18 de dezembro de 2011

Amizade

"Prezo muito minhas amizades e reservo sempre um canto no
meu peito para elas.
E, sempre que surge a ocasião, também não perco a oportunidade de dar um amigo a um amigo, da mesma forma que eu ganhei.
E não adiantam as despedidas, de um amigo ninguém se livra fácil.
A amizade além de contagiosa é totalmente incurável. "

Vinicius de Moraes

Adão e Eva

Olhámo-nos um dia,
E cada um de nós sonhou que achara
O par que a alma e a carne lhe pedia.

- E cada um de nós sonhou que o achara...

E entre nós dois
Se deu, depois, o caso da maçã e da serpente,
...Se deu, e se dará continuamente:

Na palma da tua mão,
Me ofertaste, e eu mordi, o fruto do pecado.

- O meu nome é Adão...

E em que furor sagrado
Os nossos corpos nus e desejosos
Como serpentes brancas se enroscaram,
Tentando ser um só!

Ó beijos angustiados e raivosos
Que as nossas pobres bocas se atiraram,
Sobre um leito de terra, cinza e pó!

Ó abraços que os braços apertaram,
Dedos que se misturaram!

Ó ânsia que sofreste, ó ânsia que sofri,
Sede que nada mata, ânsia sem fim!
- Tu de entrar em mim,
Eu de entrar em ti.

Assim toda te deste,
E assim todo me dei:

Sobre o teu longo corpo agonizante,
Meu inferno celeste,
Cem vezes morri, prostrado...
Cem vezes ressuscitei
Para uma dor mais vibrante
E um prazer mais torturado.

E enquanto as nossas bocas se esmagavam,
E as doces curvas do teu corpo se ajustavam
Às linhas fortes do meu,
Os nossos olhos muito perto, imensos
No desespero desse abraço mudo,
Confessaram-me tudo!
...Enquanto nós pairávamos, suspensos
Entre a terra e o céu.

Assim as almas se entregaram,
Como os corpos se tinham entregado.
Assim duas metades se amoldaram
Ante as barbas, que tremeram,
Do velho Pai desprezado!

E assim Adão e Eva se conheceram:

Tu conheceste a força dos meus pulsos,
A miséria do meu ser,
Os recantos da minha humanidade,
A grandeza do meu amor cruel,
Os veios de oiro que o meu barro trouxe...

Eu os teus nervos convulsos,
O teu poder,
A tua fragilidade,
Os sinais da tua pele,
O gosto do teu sangue doce...

Depois...

Depois o quê, amor? Depois, mais nada,
- Que Jeová não sabe perdoar!

O Arcanjo entre nós dois abrira a longa espada...

Continuámos a ser dois,
E nunca nos pudemos penetrar!

José Régio, Poemas de Deus e do Diabo

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

....

Que serei depois deste tempo
se o destino é um mistério?
Um pensamento, um verso, um sentimento?
ainda que seja transitória
ainda que seja um ser secreto,
uma memória, um momento
uma história...
serei.

MariaJB

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Tristeza - "Alma de Mariana"

Tristeza
Será que consegues imaginar
o que sente o canário
que da gaiola
não se consegue libertar?
e o que sente o missionário
na tragédia de Deus ausente?
e o que sente a árvore
quando perde a folhagem?
e o que sente o sem-abrigo
pela indiferença, sempre presente?
e o que sente o cavalo selvagem
quando é domado?
e o que sente uma criança
quando o sonho lhe é roubado?
e o guerreiro pela morte
do companheiro?
e quando o girassol
chora
não há sol, não há nada
solitário
flor pintada
em tela de Vicente
trinados de rouxinol
timidamente ao anoitecer
embalam o amor
adormecido
aos pés do teu coração deitado
subtilmente
E agora
será que podes imaginar
o que o coração sente
por um amor
que não lhe pertence?

MariaJB

domingo, 11 de dezembro de 2011

Ai Amor, Amor - "Alma de Mariana"

Ai Amor, Amor…
São sangue, as palavras de amor
Que escreveu, de vermelho carmesim
Perfumadas de essência jasmim
Lançou-as ao vento sem temor
São pássaros, colibris, beija-flores
Esvoaçam em arroubos de bravura
Do doce néctar sugam a loucura
do maior dos seus amores
e
são belas as palavras de soror
de límpida embriaguês, mariana
a sua triste sorte, desumana
Bradou aos céus sem pudor
tamanha e desvairada dor
em Delirios de loucura e paixão
de um amor ardente
de um amor pungente
Ai amor, amor …
Rasgas o coração
O dela e o de toda a gente

MariaJB

Cartas Portuguesas

São cinco as cartas de amor de autoria atribuída a Sôror Mariana Alcoforado. Cinco cartas poderosas, pungentes, de uma paixão imensurável e não correspondida. Ainda que sem presumível intenção transformaram-se num marco e também num mito da literatura portuguesa, analisadas ora à luz do estilo barroco ora romântico. Pensando somente na grandeza do sentimento que a move, o amor, então não pertencem a estilos ou épocas porque na sua essência são intemporais, como é intemporal a paixão arrebatadora manifesta em todas as nuances de uma felicidade extrema e paradoxal, do ciúme, mágoa, sofrimento, da ausência indiferente e desilusão Escrevi alguns poemas, que agrupei no título comum “Alma de Mariana” numa simples e despretensiosa homenagem ao Amor e a esta mulher simples e complexa, real ou irreal, que ousou enfrentar grades e muros de uma sociedade seiscentista e viver ainda que na solidão a plenitude de uma paixão infinita.

MariaJB