terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Não há heróis nem santos

Não há heróis nem santos na nudez da rua perturbadora,
 na exaltação do mar, nas marés turvas e perigosas,
nas chamas carnívoras de Vesúvio. Sim Pompeia!
Não há heróis nem santos na paródia do diabo,
na embriaguez da ceia. (Na de Cristo, talvez.)
Não há heróis nem santos na loucura da casinha cor de rosa,
na multidão de fome e miséria, nas pedras palestinas,
no grito, no choro, na lamentação extática da poesia maldita,
na acidez do silêncio, nas negras tardes de eclipse.

E ainda não falei de ti… pode ser amor….

Não há heróis nem santos na tragédia de um homem só, tristemente só…
na imaginação aguda e febril nas palmas do apocalipse, nos pés de Kim Phuc,
na floresta obscura, nas árvores amarelas e sedentas de pássaros perdidos, azuis,
na teia urdida com dedos de sangue nos livros esquecidos, tombados,
nas almas fatalmente destruídas.
Não há heróis nem santos em traços de rosto na tela de Goya,
na imbecilidade a dois palmos abaixo do cérebro, na ânsia de elevar ao infinito halos de glória.
Não, não há heróis nem santos nos sonhos quentes e cálidos, no meu desejo e na minha paixão . Ámen!
Há uma mulher e o diabo também…

E não fiz mais senão sonhar e dizer-te de todas as formas que te queria…
(num outro poema, talvez)
E quando a ideia da minha existência se tornar insuportável
talvez eu desça ao inferno de suicídio
e volte a nascer numa flor, numa ave, num cão, num novo ser.

MariaJB

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