segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Emudecem os pássaros...

Emudecem os pássaros
à luz quieta do entardecer,
no silêncio a estremecer
despertam olhos bárbaros

endurecidos e dourados,
espectros de uma outra esfera,
bebem sangue, água e terra
comem a carne esfaimados.

No vácuo profundo da boca
erguem-se objectos semelhantes,
punhais, facas e dentes
que trucidam na ânsia louca

corpos quentes e vacilantes.
Foge, ágil e frágil gazela,
na savana ergue uma capela,
reza pelos ossos inocentes

pela nostalgia do poeta
pelos corcéis feridos, chora
pelos verdes que amaras
pela melancolia de Greta 

garbosa estrela distante,     
um pouco ao sul do sol.
Na selva, de súbito, a escol,
todos os distintos te

veneram, vulgam doçura
com beijos de sangue,
selva nocturna exangue.
Com garras de candura

gatos, tigres e leões,
aos deuses impotentes,
(uns e outros iguais a toda a gente)
em cínicas orações,

rezam que o dia se 
faça noite de repente,
que te trucide novamente
ao entardecer que fenece

no vagar da paisagem…

MariaJB


2 comentários:

  1. Boa madrugada,
    Amei a cadência, a rima quando se fez necessária e não apenas porque sabe rimar e, sobretudo, a mistura de violência e ternura. Há uma constante sensação de terror, da ausência de esperança, mas a poesia não é sobre desesperança. É, como vejo, sobre o pavor que vem do exterior e de como se protege pela beleza.

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  2. Obrigada Marcus
    Gostei muito da sua interpretação, nem sei se eu própria a faria assim.

    MariaJB

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